Há música no jardim

Natália Correira

21 de Março de 2025 | 16H


FLORES NO TEMPO
Ode a Natália Correia




CAMERATA ATLÂNTICA 
Ana Beatriz Manzanilla | Violino e Direção Musical 




De cigarro aceso preso na boquilha, por entre as ondas do fumo, uma mente fervilhante, irreverente, provocadora, profundamente criativa. 

Mulher de um tempo em que a mulher ainda não era igual, usou a escrita como instrumento de luta, não apenas a favor de todas as outras mulheres, mas também contra as garras afiadas de um regime repressivo, implacável, empenhado em manter na sombra toda e qualquer forma de liberdade. 

Natália Correia (1923-1993) foi, sem dúvida, um dos nomes mais marcantes do século XX. Nasceu nos Açores, em Ponta Delgada, mas veio muito cedo para Lisboa, cidade onde passou a maior parte da sua vida. Uma vida de luta pela liberdade e pela emancipação da mulher.

No mês da Mulher (8 de Março), no Dia mundial da Poesia e no primeiro dia da Primavera, evocaremos Natália.

Natália, cuja personalidade e beleza marcou todos os que com ela privaram. A mesma Natália que, tendo sido conhecida essencialmente pela sua produção literária poética e de forte pendor intervencionista, estreou-se na escrita com um romance infantil, "Grandes aventuras de um pequeno herói”, corria o ano de 1945.

Nesta viagem pelo universo nataliano usaremos a música como elo de ligação. Não uma qualquer linguagem musical, mas a música escrita por um homem cuja obra foi conhecida em Portugal graças a outra mulher icónica , Olga Prats (1938-2021).

Falamos do argentino Astor Piazzolla (1921-1992), homem que redefiniu o tango no século XX, género musical cuja essência temperamental se aproxima do nosso Fado.

Com o programa "Flores no Tempo” percorreremos diferentes estações da vida de Natália Correia. Porque a sua vida, assim como a de todos nós, constitui simbolicamente uma viagem pelas diferentes estações do ano, não as temporais, mas as que definem diferentes estados de espírito e de afetos, plenas de complexas dicotomias e paradoxos.



Camerata Atlântica

"ESTACIONES PORTEÑAS"  

Astor Piazzolla | arr. de Gidon Kremer 


"Yo hice una revolución en el tango; rompí con viejos moldes y por eso me atacaron, y tuve que defenderme. Pero lo que nadie me puede negar es mi origen: tengo el tango marcado en el orillo.”Astor Piazzolla

São incontáveis as versões que Astor Piazzolla fez das suas próprias composições, tal a versatilidade, não apenas do que escrevia, como das metamorfoses por que ia passando o seu génio criativo à medida que as ia reproduzindo durante as centenas de concertos que realizou.

Também não se sabe quantas versões existem feitas por terceiros dessas mesmas obras, o que nos dá conta do estrondoso sucesso do acervo deste argentino que elevou ao patamar mais alto o bandóneon, instrumento mal conhecido antes do "fenómeno Piazzolla”.

Tal como o Fado, o Tango irrompe do recanto mais profundo da alma. A sensualidade, a sedução, o romantismo e, por vezes, uma certa decadência, faz-nos imaginar recantos boémios de Buenos Aires.

Tango é sangue nas guelras, é coragem, é uma certa fanfarronice, mas também é nostalgia, suor e lágrimas, tudo numa amálgama que não pode passar ao lado de nenhum português que tenha tomado contacto com o fenómeno da emigração e do exílio, das partidas forçadas pelo sonho de melhores condições materiais, pelo sonho da liberdade, ou mesmo a fuga à Guerra do Ultramar.

Por isso é tão fácil sentirmos a intensidade das "Estações Porteñas” e senti-las como sendo um pouco nossas, de tão humanas que são. Por isso encontramos um pouco da Natália Correia em cada uma delas.

A versão hoje apresentada revela-nos o brilhantismo de um dos mais reconhecidos violinistas contemporâneos, Gidon Kremer, versão que será tocada pelos inspirados solistas da Camerata Atlântica, com a direção musical da venezuelana Ana Beatriz Manzanilla.


PROGRAMA 


Fuga criolla …………………………………………………… Juan Bautista Plaza (1898-1965) 

Chorinho ……………………………………………………….. Eurico Carrapatoso (1963) 

Estaciones Porteñas ………………………………………….. Astor Piazzolla (1921-1992) 

Verano - Otoño - Invierno - Primavera 



CAMERATA ATLÂNTICA


É um projeto musical idealizado pela violinista venezuelana Ana Beatriz Manzanilla, sua diretora artística. Tendo como base 11 instrumentistas profissionais de cordas a Camerata tem a flexibilidade de poder ser alargada a uma formação mais ampla dependendo do repertório a executar. 

Após o seu concerto inaugural, em Novembro de 2013, a Camerata Atlântica apresentou-se consecutivamente com grande sucesso nos Dias da Música desde 2014 no Centro Cultural de Belém, no Festival de Música em Leiria, no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian no âmbito dos Prémios Jovens Músicos 2014, na temporada de Música Gulbenkian 2015-16 com o trompetista Pacho Flores, no Festival Jardim de Verão da Fundação Gulbenkian 2018 e Natal em Lisboa da EGEAC em 2017, 2018, 2019, 2020 e 2022, na Temporada 2019 e 2021 do Teatro Joaquim Benite, no Festival das Artes 2019, na Temporada Música em São Roque 2019-2022, no Festival ao Largo 2020 e na Semana Internacional de Piano de Óbidos 2022.

A Camerata Atlântica tem actuado um pouco por todo o país, nomeadamente no Teatro Municipal de Vila Real, Teatro Municipal da Covilhã, Theatro Circo de Braga, Auditório Madalena Perdigão na Figueira da 
Foz, Centro Cultural de Lagos, Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco, entre outros. 

A Camerata Atlântica criou o Concurso Nacional de Cordas "Vasco Barbosa”, que contou com a sua primeira edição em 2015 e é já considerado um dos principais Concursos de Música a nível nacional.
 

Em Maio de 2016 foi selecionada pela Antena 2 para interpretar "Fuga para a América Latina” no encerramento da série especial da União Europeia de Rádios intitulada "A influência da América Latina”, com posterior transmissão na Alemanha, Bulgária, Croácia, Espanha, Grécia, Hungria, República Checa e Roménia. 

Em 2017 actuou na programação oficial de Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura e editou o seu primeiro CD intitulado "Fuga para a América Latina”. 

Numerosos solistas tem actuado com a Camerata Atlântica, nomeadamente o contrabaixista Edicson Ruíz, a violinista Lana Trotovsek, os cantores Carolina Figueiredo, Cátia Moreso, Carlos Guilherme, Sandra Medeiros, Mariana Castello-Branco e os pianistas João Bettencourt da Câmara e Vasco Dantas entre outros. 

A Camerata Atlântica conta com apresentações em algumas cidades espanholas como Madrid, Burgos, Cádis e Vigo.